sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Filme: As pequenas flores vermelhas

Qiang é um pequeno rebelde de 4 anos, que brinca em um jardim-de-infância bem provido na Pequim pós-1949. A vida no infantário aparenta ser divertida, mas não é fácil para Qiang adaptar-se a este tipo de vida, em grupo, cuidadosamente organizada, examinada minuciosamente ao minuto. Embora continue a desejar o prémio que os outros estudantes ganham: as pequenas flores vermelhas atribuidas todos os dias como símbolo de bom comportamento, Qiang não ganha nenhuma flor pois nem sequer consegue vestir-se e nem brinca com as outras crianças. Ele ainda se atreve a responder mal à rígida Professora Li e ao Reitor Kong quando tentam impor alguma disciplina. Gradualmente, o carisma e a fanfarronice dele começam a ganhar magnetismo perante os colegas: as pequenas dissimuladas rebeliões deles ganham força quando ele é bem sucedido em convencer todos que a Professora Li é um monstro disfarçado que come crianças. Quando a tentativa de captura da professora é frustrada, a resistência de Qiang desenvolve-se numa dimensão perturbadora e é forçosamente excluído pelos companheiros. Será que ele irá render-se ao regime adulto imposto em volta dele, ou será que insistirá em crescer à maneira dele, e pelas regras dele?

Realização: Zhang Yuan
Com: Dong Bowen, Ning Yuanyuan
China/Itália, 2006

Comentário: O mais interessante do filme é perceber o sistema metódico e rígido chinês, começando pelo vestuário: padronizado, largo, em cores sóbrias, passando pelo controle gestual e comportamental. O filme mostra ainda, como a sociedade chinesa molda o indivíduo desde a infância para contribuir como uma engrenagem na sociedade, cada um é apenas uma peça, o tratamento individualizado e diferenciado não é recomendado como justificativa de não "mimar" o sujeito. Na atualidade corriqueiramente vemos exemplos dessa recomendação, indivíduos que sobressaem ou que chamam a atenção de forma negativa são acusados de "mimados". O principal aspecto que o filme nos deixa para análise é a relação individualidade x coletividade. Por indivíduo entendemos um ser singular. O individualismo é um conceito teórico recente data do início do século XX, na França pós-revolucionária, significando a dissolução dos laços sociais e abandono das obrigações coletivas, com o grupo. A sociedade que se organiza valorizando pouco a individualide, se apóia nas ciências naturais, onde cada ser cumpre seu papel analógicamente. Para o sociólogo Norbert Elias, o processo de diferenciação individual, ou de individualização, é como um processo civilizador, onde o indivíduo aos poucos vai libertando-se das exigências da sociedade e adquirindo maior autonomia em relação ao todo, como uma criança que vai se desenvolvendo até se transformar em adulto. Embora, um indívíduo jamais consiga ser um ser isolado, jamais conseguirá desvencilhar totalmente das tramas da sociedade.  

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